quinta-feira, 18 de junho de 2009

Coisas e Loisas do Folclore!



E agora, o que outros sabem, viram ou repetem de ouvida.

MEDICINA CURATIVA E PREVENTIVA

1
– Beber água depois de chupar cana faz urina doce (nome popular do diabete).

2 – Não se deve tomar banho após cortar o cabelo: faz congestão cerebral.

3 – Cura-se rapidamente a dor e a inflamação produzidas pela picada do bagre, aplicando-se sem demora um pouco de mênstruo de mulher sobre a ferida.

4
– O soluço das crianças de peito desaparece pondo-se uma bolinha de fios de baeta vermelha, tirados dos cueiros e umedecidos de saliva, na testa da criança.

5
– Um tiro ou outro estampido forte, de surpresa, produzido em baixo da cama de um doente de maleita, faz cessar incontinenti o ataque de frio e tremor. – Haverá uma ação do susto sobre o sistema nervoso?

6 – O chá do caranguejo grauçá cura puxado. Obtém-se igual resultado com o cozimento da areia apanhada no rasto de um homem cuja esposa lhe é infiel.

7 – Remédio poderoso contra a blenorragia é beber de manhã em jejum um copo d’água serenada, isto é, daquela que se deixou durante toda a noite ao ar livre, misturada com um punhado de farinha de mandioca (ver o número 20).

8
– Para a retenção da urina não há como o chá de uma perninha de grilo. (ver capítulo I).

9 – O gargarejo de um decocto da formiga de roça cura as inflamações da garganta. Efeito idêntico se obtém com o cozimento da lagartixa. (ver capítulo I).

10 – Curam-se as queimaduras ou, pelo menos aliviam-se-lhe as dores, com cataplasmas de manteiga espalhada sobre papel amarelo de embrulho. – Efeito da gordura animal? Butiróleo das farmácias? A recomendação do papel amarelo deve provir apenas de que nas mercearias se compravam pequenas porções daquele alimento, enroladas em papel barato, dessa cor.

11
– Sapo aberto pelo ventre e aplicado no pescoço do doente faz rebentar os tumores da garganta. (ver capítulo I).

12 – O uso perseverante do chá das folhas da mangueira cura prisão de ventre.

13 – Os morféticos recuperam a saúde, comendo carne de urubu, como se fora galinha. Há quem recomende usar só o figado do vulturídeo.

14 – Quando alguém se machuca seriamente, dá-se-lhe a beber sem demora o cozimento de um pinto recentemente saído do ovo e esmagado num pilão. Com isso evitam-se lesões e resolvem-se os hematomas internos. – Note-se que pilão aqui é um grande grau de madeira resistente, e não o instrumento de bater, que se diz mão de pilão.

15
– Para a cura da sarna e erupções cutâneas semelhantes, o melhor que há é chupar muitos cajus esfregar vigorosamente o bagaço na pele e após algum tempo, o mais longo possível, tomar banho, de preferência em água corrente. – Ação do tanino sobre os parasitos ou simples efeito mecânico da esfregação?

16
– O pelo do gato doméstico produz puxado, principalmente nas crianças. – Alergia ou efeito físico-químico? – Note-se que esse felino tem um ronrom constante que lembra a dispnéia dos asmáticos.

17
– Cura-se varíola dando-se a beber ao doente chá de jasmim de cachorro, assim chamado o excremento desse animal, que, quando exposto ao sol, se torna muito branco. É conveniente que o paciente não saiba o que está tomando. (Cf. nº 33)

18
– Casca de romã, levada ao fogo reduzida a pó, mata ou cicatriza feridas. (ver capítulo I).

19
– Pingando-se azeite quente sobre um bubão venéreo mula, deixando o óleo correr pela perna abaixo até um local escolhido e aí detendo-o com a lâmina de uma faca, o tumor sai da virilha e aparece no ponto marcado. É preciso, contudo, cuidar que o líquido não corra demais até cair no chão, pois nesse caso o bubão recolhe e pode ir para o pulmão, resultando em tuberculose. (Cp. nºs 22 e 32)

20
– Se um homem é presa de blenorragia, deve praticar o coito o mais possível, para descarregar a doença. (Cf. nº 7)

21 – Não se deve plantar a trepadeira mimo do céu (Antigonium leptopus?), perto de casa, porque o pólen de suas flores é causa de tuberculose pulmonar. – Alergia, com efeito sobre os órgão nobres da respiração?

22
– A banha do jacaré cura o reumatismo articular. O sebo de carneiro capado restaura as articulações ancilosadas. A enxúndia da galinha resolve os gânglios inguinais enfartados. (ver capítulo I – Cp. nº 19)

23
– Dá-se o nome popular de alistrim (Corr. E metonímia de alastrim ou arestim?) a um pequeno molusco que vive em colônias nos moirões das pontas e nos cascos das embarcações. Crê-se que a ingestão do seu infuso cura as hidropisias. É também remédio para essa doença o uso interno do mijo de vaca, e ainda o purgante do jaracatiá (mamão do mato.)

24
– O melhor remédio contra a picada do escorpião é matar o inseto agressor e esfregá-lo vigorosamente na parte ofendida, com o que se aliviam as dores e elimina o veneno.

25
– Acaba-se o torcicolo surrando-se o pescoço doente com um saquinho cheio de sal de cozinha. – Efeito do cloreto por via dérmica, do calor ou da massagem?)

26 – As fezes frescas do cavalo, aplicadas sobre pequenos ferimentos, estancam incontinenti o fluxo sanguíneo. (ver capítulo I – Cf. nº 37)

27
– Uma barata doméstica (blatta), machucada e introduzida no ouvido, cura as otalgias.

28 – Uma surra aplicada com um galho da urtiga cansanção sobre uma articulação reumatizada elimina a doença (ou o sintoma – dor?). – Efeito do fomento da circulação sangüínea? Não é hoje usual, para esse último fim, o emprego de certas drogas por meio de injeções sub-cutâneas?)

29 – Evita-se a infecção que possa sobrevir à extração de um bicho-de-pé (culex penetrans), fechando-se o orifício com cera de ouvido ou cal raspada da parede.

30 – Ao tempo em que o remédio contra lombrigas era exclusivamente a santomina, a droga devia ser tomada pela manhã em jejum, ainda na cama. O essencial era o doente não ver o verde antes de ingeri-la, porque se olhasse qualquer vegetal, o remédio não produziria efeito. Explicava-se o insucesso com o fato de que, se a prescrição não fosse cumprida, os vermes se recolhiam imediatamente ao saco.

31
– É bom ter sempre em casa um cágado, porque a fricção do quelônio vivo num membro afetado de erisipela cura o mal.

32
– Comprimindo-se os gânglios inflamados das virilhas com a lâmina de uma faca que passou a noite exposta ao sereno, os mesmos desaparecem em poucos dias.

33
– As pústulas variólicas furadas e espremidas com espinho de laranjeira saram sem complicações nem cicatrizes.

34 – O leite de peito, assim chamado só o de mulher, cura as erupções do rosto dos lactentes. – Efeito emoliente? Ação do ácido lático?

35
– O emplastro do leite da gameleira (ficus doliaria, Mant.) reduz as hérnias inguinais, devendo ser deixado sobre o local até que se desprenda por si mesmo.

36
– O cuspo em jejum é tópico excelente contra dartros e eczemas. – As afirmativas nesse sentido são categóricas. E então deveremos pensar nos ácidos e sucos gástricos porventura acumulados na boca durante o sono?

37 – A picumã (teias de aranha impregnadas de fuligem) faz parar as hemorragias externas. Usada internamente, em chás, provoca o aborto. – Não haverá aqui uma contradição, a acreditarmos nos dois efeitos da mezinha?

VÁRIAS CIÊNCIAS – ORIGEM E NATUREZA DAS COISAS

38 – Quando a papa servida a um doente se torna rala, o doente não tem cura.

39
– Criança concebida durante um eclipse nasce com a pele escura ou, pelo menos, com uma mancha carregada.

40
– Mulher não deve comer ovo de duas gemas ou fruta de bagos ou sementes eventualmente inconhos (coconhos, é como se diz), porque terá partos gêmeos.

41 – Matar uma andorinha a tiro faz a arma descalibrar-se.

42 – Não se deve deixar mulher menstruada pegar em relógio, o mesmo para.

43
– Para acabar com a verruga, basta que seu portador não lhe chame este nome, mas, sim – argueira. Melhor será ainda que as pessoas de casa tenham o mesmo procedimento. (Cf. nº 46)

44
– Curam-se lubins (dobinhos – cistos cebáceos), conseguindo que os apalpe uma pessoa que já haja cometido um assassinato.

45 – É fácil saber se um nosso desejo será satisfeito: basta jogar para cima, dentro de casa, em direção ao telhado, uma casca de laranja tirada inteira em espiral. Se a casca fica presa às ripas, o êxito é certo; se cai, percamos a esperança.

46
– Também se acaba com uma verruga se o seu portador, ao ver dois homens montados num mesmo cavalo, segura a excrescência e diz: - Lá se vão dois em cima de um! Salta verruga no c... de um!

47
– Se um casal quer ter filho varão, realize o coito estando o homem deitado sobre o lado direito; se quer mulher, invertam-se as posições.

48
– Para a criança falar cedo, dá-se-lhe a beber água das chuvas de janeiro ou de um pote novo.

49
– Urinar em formigueiro faz uretrite.

50 – Um cabelo humano arrancado da cabeça com a raiz e posto numa garrafa cheia d’água, depois de certo tempo vira cobra.

51
– Quando partimos um coco da praia e encontramos a polpa roída, foi a lua que comeu. É coco comido da lua. É sabido que o fato é devido à larva de um inseto (borboleta ou besouro) que adrede depõe os ovos na parte mole, superior, do fruto inda imaturo.

52 – Um rosário feito com rodelinhas de pecíolos da mamoeira e pendurado no pescoço da partiuriente que perdeu o filho, faz secar o leite na medida em que as contas vão murchando.

53 – Um grampo do cabelo das mulheres, montando na borda da chaminé de um candeeiro, evita que a mesma rache com o excessivo calor da chama.

54 – Quando mudamos de casa e levamos um gato conosco, devemos passar um pouco de manteiga nas patas do animal. Com isso ele não volta para a antiga residência.

55 – Os cães de pescadores e doutros habitantes da orla marítima trazem sempre nomes de peixes cetáceos – Piranha, Baleia, Boto, Xaréu, etc. Essa prática os imuniza da raiva.

56 – A mosca doméstica, esmagada e esfregada no lábio do adolescente, apressa-lhe o aparecimento e crescimento do bigode.

57 – Um couro de raposa colocado entre o colchão e o lastro da cama afugenta os percevejos. – Talvez se possa admitir aqui a ação do cheiro desprendido pelo couro ainda novo.

58 – As aftas da comissura dos lábios são produzidas pelo mijo de aranha que transitou pelo telhado enquanto o paciente dormia. Dá-se mesmo esse nome aquelas pequenas pústulas.

59 – A urina dos equídeos é que gera os cogumelos nascidos em velhos troncos e detritos espalhados pelo campo. Daí, seu nome popular de mijo de cavalo.

60 – O querosene dos candeeiros rende mais se pusermos dentro deles uma pedra de sal de cozinha.

61 – Uma pedra de enxofre mantida no pote d’água, conserva-a isenta de impurezas. – Sabida a insolubilidade de tal metaloide nesse líquido, como pensar aqui na sua ação saneadora?

62 – Para acabar com o piolho das aves chamado neném de galinha, amarra-se uma longa tira de pano numa vara comprida, que se finca no galinheiro. Os parasitos largam o hospedeiro, trepam pelo pau, pegam-se à bandeirola e o vento os dispersa.

63 – A pessoa que passar por baixo do arco-íris mudará de sexo. (Ep. nº 68)

64 – Os papagaios (Psitacus) aprendem depressa a falar se os colocamos dentro de um pote de barro e enunciamos a lição com a nossa boca bem próxima da do recipiente. – Para que essas aves se tornem rapidamente contrafeitas, isto é, adquiram as penas vermelhas e amarelas que as adornam, basta que freqüentemente enchamos a boca d’água e com ela borrifemos no animal.


65 – O óleo extraido do cadocarpo do coco da praia (cocos nucifera), aplicado num dente profundamente cariado, além de suprimir a dor, faz estalar o dente, facilitando (?) sua avulsão.

66 – As pessoas cujo segundo pododáctilo é mais comprido que o primeiro desfrutarão de vida longa.

67 – Esfregando a baba de um boi nas mãos, qualquer menino de escola (estilo antigo, já se vê) as torna insensíveis aos bolos. Mas o melhor é fazer um pequeno furo no centro da palmatória e ai introduzir um piolho da cabeça (pediculus capitis), porque o instrumento lascará à primeira tentativa de castigo.

68 – A pessoa que passar por baixo dos andaimes de uma casa em construção ficará solteira para sempre. (Cp. nº 93)

69 – Estudando à noite e colocando o livro sob o travesseiro, ao acordar na manhã seguinte o menino saberá sua lição na ponta da língua.

70 – Para uma mulher evitar o coito com determinado homem, basta enfiar uma agulha de coser no próprio travesseiro: o homem se torna impotente.

71 – Se queremos que uma árvore cresça normalmente, não devemos acocorar-nos ao plantá-la. Do contrário ficará pequena e mirrada.

72 – Um besouro mangangá torrado e moído e posto no orifício produzido na areia pelo jato da urina de uma mulher, faz com que ela corra a entregar-se ao autor da bruxaria.


SUPERSTICÕES – ABUSÕES – PREMONIÇÕES – BRUXEDOS

73 – Areia de cemitério, jogada dentro de uma casa ou mesmo deixada ao pé da porta de entrada, traz atraso e desgraça ao seu habitante.

74 – O canto de um anum (Crotophaga ani, Lin.) nas proximidades da casa de um doente anuncia sua morte. É igual prenúncio o canto da coruja rasga-mortalha.

75 – Apontar para as estrelas contando-as, faz nascerem verrugas nos dedos. Mas se isso acontecer, acharemos remédio certo nos nºs 43 e 46.

76 – As pessoas adultas não devem dormir com os pés voltados para a porta da rua, nem os meninos em sentido contrário, porque isso chama a morte. Assim saem de casa os ataúdes.

77 – Idêntico efeito produzem os chinelos deixados de borco. É preciso conservá-los em posição normal.

78 – Sair de casa com o pé esquerdo ou entrar com ele na frente no lugar para onde vamos, dá azar.

79 – As pessoas que pegarem no caixão de um defunto para tirá-lo de casa devem ser as mesmas a entrar com ele no cemitério: quem não o fizer poderá morrer logo. Ao mesmo ficarão sujeitas aquelas que não deitarem um punhado de terra na cova, no momento da inumação.

80
– Se um menino andas às recuadas, está botando pai e mãe no inferno.

81 – Abrir os braços em cruz no vão de uma porta chama a morte.

82 – Uma moeda de cobre colocada na boca de uma pessoa assassinada impede que o homicida fuja do local do crime.

83 – Se ao caminharmos tropeçamos numa pedra ou noutro objeto, não devemos praguejar, porque com isso estamos causando mal à alma de um defunto. E se deparamos dois pauzinhos ou objetos semelhantes sobrepostes em cruz, devemos descruza-los ou passar de lado: faz mal pisá-los.

84 – Ao bocejarmos devemos fazer cruzes na boca com o polegar direito, para evitar a entrada, por aí, de qualquer mal.

85 – Para que uma jura seja mais enfática e fidedigna, devemos fazé-la pondo os dedos indicadores em cruz e beijando-os, uma vez com o direito sobreposto e outra ao contrário.

86 – Se, ao comermos, algum bocado nos cai da boca, devemos por de parte um pouco da comida ou jogá-lo em baixo da mesa, para alguma alma necessitada.

87 – Se a nossa orelha direita coça, estão falando bem de nós: se é a esquerda, falam mal. – Coceira na palma da mão direita é dinheiro que vamos receber; na esquerda, é carta a chegar. Mas para que a previsão se realize, é preciso coçar sempre na direção do punho. E daí, o prudente aviso – Nunca cortar para dentro (para evitar acidentes), nem coçar para fora.

88 – Quando ao abrirmos pela manhã a porta ou a janela a primeira pessoa que vemos é um negro ou um padre (pelas vestes pretas), podemos contar com um dia ominoso.

89 – Enguiçar (passar por cima de...) uma mulher grávida sentada no chão faz o nascituro parecer-se com a pessoa que enguiçou.

90 – Quando uma criança se curva para a frente e olha por baixo das pernas, está chamando um novo irmão: a mãe vai por certo engravidar. – Se a primeira palavra que uma criança pronuncia é papai, seu próximo irmão será homem; se diz mamãe, será mulher.

91 – Faz mal às parturientes comer galinha barbuda, assim chamada a que traz algumas peninhas filiformes em torno do bico ou dos olhos.

92 – Devemos cortar as unhas nas sexta-feiras ; noutros dias faz mal.

93 – Faz mal passar por cima da corda que prende um animal devemos passar por baixo ou contorná-la.

94 – Não se deve deixar aberto baú ou mala, que chama a morte. – Também faz mal deixar aberta uma tesoura de que acabamos de servir-nos.

95 – Não se deve varrer a casa empurrando o lixo para a rua: tira a sorte.

96 – Faz mal vender sal de cozinha à noite ou aos domingos. Sendo necessário, dá-se ou empresta-se um pouco do produto.

97 – Quando uma criança extrai um dente de leite deve atirá-lo no telhado dizendo: - Mourão, mourão! Toma teu dente podre, me dá o meu são!. E logo lhe nasce um dente novo e perfeito.

98 – Se, conversando, queremos indicar no nosso próprio corpo o lugar em que um terceiro tem uma ferida ou outra doença, devemos acrescentar logo a ressalva – Lá nele. Sem isso, poderemos ser atingidos pelo mal.

99 – Falando de doença braba, como a lepra ou a bexiga, o melhor é não pronunciar-lhe o nome; mas, se temos de fazê-lo, é forçoso que, batendo com a mão direita na boca, pronunciemos o exorcismo: - Ave Maria! Ave, Maria!

100 – Se sonhamos que nos cai ou extraímos um dente, devemos esperar a morte de um parente, tanto mais próximo quando o dente for um incisivo, um canino ou um molar, pela ordem. Se não for um parente, será uma pessoa amiga.

101 – Quando uma galinha canta como galo deve ser logo sacrificada, porque está agourando a morte de alguém da casa.

102 – Se um móvel, talvez por dilatação da madeira, começa a dar estalidos é mau sinal: vai morrer alguém da família – Há quem afirme possuir um desses objetos especializado em tais vaticínios. (Cf. nº 113)

103 – Se alguém, gravemente doente, começa a chamar ou a ver parentes ou pessoas amigas já falecidas, seu caso é perdido. – O fato tem sido de algum modo estudado pela Metapsíquica.

104 – É sinal alarmante um doente grave mudar insistentemente de posição, virando-se da cabeceira para os pés da cama. Dificilmente escapará.

105 – Não devemos dar nem receber presente de lenço: faz quebrar amizade.

106 – Deixemos em paz um grilo que cricrila em nossa casa: sua música anuncia dinheiro. E um dia o pobrezinho valerá talvez uma vida humana (ver nº 8).

107 – Um pão bento colocado no depósito da farinha (de mandioca, subentenda-se) faz crescer e render esse alimento.

108 – Um pé do arbusto chamado vulgarmente pinhão roxo, plantado no terreiro ou no jardim da frente da casa, evita a entrada de sortilégios.

109 – Despedidas repetidas na mesma ocasião fazem morrer logo. Donde o prolóquio – Quem muito se despede morre cedo.

110 – Se vemos uma estrela cadente, devemos dizer rápido: Deus te salve, relógio!. Com isso, salva-se uma alma penada. – Por que relógio? Só uma vaga, tenuíssima justificativa encontramos para isso: a possível alusão, pouco provável entre o povo ignorante, à constelação austral que traz esse nome.

111 – E se, durante o curso fugaz de um desses meteoros, conseguimos abaixar-nos, apanhar um objeto qualquer e erguê-lo ao céu, dizendo: - Deus me dê o que desejo, com certeza o nosso pedido será satisfeito.

112 – Se um santelmo pousar na borda ou no mastro de uma embarcação, fá-la-á emborcar. Se o fogo corredor anda emparelhado, são as almas errantes e sofredoras de um compadre e uma comadre que pecaram em união carnal.

113 – Quando um vaso de vidro estala sem receber pancada, foi o ar que passou, e disso providencialmente se livrou uma pessoa.

114 – Quando a saia de uma mulher ameaça cair, é que pretendem tomar-lhe o marido.

115 – Se ao encontrar uma cobra no caminho uma mulher dobrar logo o cós da saia e disser Esteja presa por ordem de São Bento, o réptil não sairá do lugar – São Bento protege contra os ofídios.

116 – Há três remédios, qualquer deles infalível, para ficarmos livres de uma visita importuna: - Pôr uma vassoura atrás da porta, com o cabo para baixo; deitar no fogo um punhado de sal; virar um tição, pondo a brasa para fora.

117 – As pessoas que choraram quando ainda estavam no ventre materno trazem o condão de adivinhar. – As que nasceram empelicadas terão vida feliz.

118 – Há mais de um processo prático para uma pessoa livrar-se de um argueiro impertinente. Primeiro: Com uma das mãos baixa-se a pálpebra e cobre-se o olho atingido, e com a outra comprime-se a narina do lado oposto. Feito isso, expele-se com força o ar dos pulmões pela narina livre, e o argueiro sai logo por aí. Há quem complique a cerimônia, cruzando as mãos, isto é, usando a direita para a pálpebra esquerda, com a outra na narina direita e vice-versa. Segundo: Põe-se uma sementinha de alfavaca-de-cheiro no olho molestado. O grãozinho atrai o outro corpo estranho para a parte anterior do olho, tornando-se, fácil retirar os dois. E este terceiro, cuja eficácia intrínseca e própria não é menor que sua doçura e poesia, nem se desdiz pela necessidade de acompanhar o recitativo com um movimento de rotação da pálpebra sobre o globo ocular. Assim fazendo, formula-se o apelo, em voz cadenciada e branda:

"Corre, corre, cavaleiro,
Vai à casa de São Pedro,
Vai dizer à Santa Luzia
Que me mande seu lencinho
Pra tirar um argueirinho
De dentro do meu olhinho!"

E a caridosa santa, protetora da vista, manda, manda logo seu lencinho branco e cheiroso, se não é ela mesma que, invisível mas real, desce das alturas em socorro do postulante.

O tema continua aberto ao interminável concurso de elementos que vem de toda parte. Como vimos, há de tudo dentro dele: desde a realidade inconcussa, que pede só explicação racional ou análise adequada, até a afirmativa descosida, o dogma anfigúrico, a prática extravagante. Depara-se-nos quando a quando um faz-mal indefinido, vago e abstrato, de cujo objeto ninguém indaga. E se acaso acontece alguém fazê-lo, por mais disparatada que seja a resposta, não será por isso menos bastante e convincente.

– Faz mal!, e pronto. Várias coisas se entrelaçam e se coadjuvam: outras se entrechocam e contradizem. Mas o que se registra aqui é o pensamento em si, a convicção, a intenção, a crença – chamem-lhe crendice se quiserem – que surgem, se disseminam e se afirmam entre as diversas camadas sociais. Nenhuma delas se isenta de contaminação com o pólen esvoaçante dessa borboletas multiformes e polieromas, de geração espontânea, transmudadas nas frases feitas e juízos e preceitos correntes, que são os esconjuros, os amavios, a moral em conceitos, demosóficos, a terepêutica em fórmulas abstrusas, a religião em sapiência extra-evangélica.

Por força dessa endemicidade incombatível, raros serão, na hora que passa, os membros de uma sociedade, culta ou nescia, atilada ou obtusa, que em momento difícil ou aso inesperado, recuse total e definitivamente a prestabilidade de tão imediatos servidores. A cura, o alívio, a prevenção, reais ou imaginários, de uma aflição física ou moral, quantas vezes realizados só pela sugestão ou o medo; o estímulo e o induzimento de uma criança, acordando-lhe o instinto, agitando-lhe as forças adormecidas ou inchando-lhe o interesse; a expressão de um desejo de bem ou de mal, ou de uma aspiração consciente ou abscôndita, - são tantos fins, dentre inúmeros, para os quais brotam e discorrem as fontes da sabedoria popular. E eis que, sendo elas praticamente inesgotáveis, ainda por longo, muito longo tempo, as coisas e loisas do folclore beberão subsídios e acheganças em seu farto manancial.


Fonte: [novembro de 1960]
(SANTIAGO, Paulino. In Boletim Alagoano de Folclore. Maceió, 1959, ano 4, números

2 comentários:

Luana Lopes disse...

Oo'

Djuli- Thats what she said disse...

Me senti lendo um livro de Contos de Fadas! Tem palavras ai que só podem ser inveçao, nao é possivel!!hahaahahahah

d:-P